domingo, 29 de junho de 2008

Discalculia

DiscalculiaA matemática para algumas crianças ainda é um bicho de sete cabeças. Muitos não compreendem os problemas que a professora passa no quadro e ficam muito tempo tentando entender se é para somar, diminuir ou multiplicar; não sabem nem o que o problema está pedindo. Alguns, em particular, não entendem os sinais, muito menos as expressões. Contas? Só nos dedos e olhe lá.Em muitos casos o problema não está na criança, mas no professor que elabora problemas com enunciados inadequados para a idade cognitiva da criança.Carraher afirma que:“Vários estudos sobre o desenvolvimento da criança mostram que termos quantitativos como “mais”, “menos”, maior”, “menor” etc. são adquiridos gradativamente e, de início, são utilizados apenas no sentido absoluto de “o que tem mais”, “o que é maior” e não no sentido relativo de “ ter mais que” ou “ser maior que”. A compreensão dessas expressões como indicando uma relação ou uma comparação entre duas coisas parece depender da aquisição da capacidade de usar da lógica que é adquirida no estágio das operações concretas”...”O problema passa então a ser algo sem sentido e a solução, ao invés de ser procurada através do uso da lógica, torna-se uma questão de adivinhação” (2002, p. 72).No entanto, em outros casos a dificuldade pode ser realmente da criança e trata-se de um distúrbio e não de preguiça como pensam muitos pais e professores desinformados.Em geral, a dificuldade em aprender matemática pode ter várias causas.De acordo com Johnson e Myklebust, terapeutas de crianças com desordens e fracassos em aritmética, existem alguns distúrbios que poderiam interferir nesta aprendizagem:Distúrbios de memória auditiva:- A criança não consegue ouvir os enunciados que lhes são passados oralmente, sendo assim, não conseguem guardar os fatos, isto lhe incapacitaria para resolver os problemas matemáticos.- Problemas de reorganização auditiva: a criança reconhece o número quando ouve, mas tem dificuldade de lembrar do número com rapidez.Distúrbios de leitura:- Os dislexos e outras crianças com distúrbios de leitura apresentam dificuldade em ler o enunciado do problema, mas podem fazer cálculos quando o problema é lido em voz alta. É bom lembrar que os dislexos podem ser excelentes matemáticos, tendo habilidade de visualização em três dimensões, que as ajudam a assimilar conceitos, podendo resolver cálculos mentalmente mesmo sem decompor o cálculo. Podem apresentar dificuldade na leitura do problema, mas não na interpretação.- Distúrbios de percepção visual: a criança pode trocar 6 por 9, ou 3 por 8 ou 2 por 5 por exemplo. Por não conseguirem se lembrar da aparência elas têm dificuldade em realizar cálculos.Distúrbios de escrita:- Crianças com disgrafia têm dificuldade de escrever letras e números.Estes problemas dificultam a aprendizagem da matemática, mas a discalculia impede a criança de compreender os processos matemáticos.A discalculia é um dos transtornos de aprendizagem que causa a dificuldade na matemática. Este transtorno não é causado por deficiência mental, nem por déficits visuais ou auditivos, nem por má escolarização, por isso é importante não confundir a discalculia com os fatores citados acima.O portador de discalculia comete erros diversos na solução de problemas verbais, nas habilidades de contagem, nas habilidades computacionais, na compreensão dos números.Kocs (apud García, 1998) classificou a discalculia em seis subtipos, podendo ocorrer em combinações diferentes e com outros transtornos:Discalculia Verbal - dificuldade para nomear as quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações.Discalculia Practognóstica - dificuldade para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens matematicamente.Discalculia Léxica - Dificuldades na leitura de símbolos matemáticos.Discalculia Gráfica - Dificuldades na escrita de símbolos matemáticos.Discalculia Ideognóstica – Dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos.Discalculia Operacional - Dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos.Na área da neuropsicologia as áreas afetadas são:Áreas terciárias do hemisfério esquerdo que dificulta a leitura e compreensão dos problemas verbais, compreensão de conceitos matemáticos;Lobos frontais dificultando a realização de cálculos mentais rápidos, habilidade de solução de problemas e conceitualização abstrata.Áreas secundárias occípito-parietais esquerdos dificultando a discriminação visual de símbolos matemáticos escritos.Lobo temporal esquerdo dificultando memória de séries, realizações matemáticas básicas.De acordo com Johnson e Myklebust a criança com discalculia é incapaz de:Visualizar conjuntos de objetos dentro de um conjunto maior;Conservar a quantidade: não compreendem que 1 quilo é igual a quatro pacotes de 250 gramas.Seqüenciar números: o que vem antes do 11 e depois do 15 – antecessor e sucessor.Classificar números.Compreender os sinais +, - , ÷, ×.Montar operações.Entender os princípios de medida.Lembrar as seqüências dos passos para realizar as operações matemáticas.Estabelecer correspondência um a um: não relaciona o número de alunos de uma sala à quantidade de carteiras.Contar através dos cardinais e ordinais.Os processos cognitivos envolvidos na discalculia são:1. Dificuldade na memória de trabalho;2. Dificuldade de memória em tarefas não-verbais;3. Dificuldade na soletração de não-palavras (tarefas de escrita);4. Não há problemas fonológicos;5. Dificuldade na memória de trabalho que implica contagem;6. Dificuldade nas habilidades visuo-espaciais;7. Dificuldade nas habilidades psicomotoras e perceptivo-táteis.De acordo com o DSM-IV, o Transtorno da Matemática caracteriza-se da seguinte forma:A capacidade matemática para a realização de operações aritméticas, cálculo e raciocínio matemático, encontra-se substancialmente inferior à média esperada para a idade cronológica, capacidade intelectual e nível de escolaridade do indivíduo.As dificuldades da capacidade matemática apresentadas pelo indivíduo trazem prejuízos significativos em tarefas da vida diária que exigem tal habilidade.Em caso de presença de algum déficit sensorial, as dificuldades matemáticas excedem aquelas geralmente a este associadas.Diversas habilidades podem estar prejudicadas nesse Transtorno, como as habilidades lingüisticas (compreensão e nomeação de termos, operações ou conceitos matemáticos, e transposição de problemas escritos em símbolos matemáticos), perceptuais (reconhecimento de símbolos numéricos ou aritméticos, ou agrupamento de objetos em conjuntos), de atenção (copiar números ou cifras, observar sinais de operação), e matemáticas (dar seqüência a etapas matemáticas, contar objetos e aprender tabuadas de multiplicação).Quais os comprometimentos?Organização espacial;Auto-estima;Orientação temporal;Memória;Habilidades sociais;Habilidades grafomotoras;Linguagem/leitura;Impulsividade;Inconsistência (memorização).Ajuda do professor:O aluno deve ter um atendimento individualizado por parte do professor que deve evitar:Ressaltar as dificuldades do aluno, diferenciando-o dos demais;Mostrar impaciência com a dificuldade expressada pela criança ou interrompê-la várias vezes ou mesmo tentar adivinhar o que ela quer dizer completando sua fala;Corrigir o aluno freqüentemente diante da turma, para não o expor;Ignorar a criança em sua dificuldade.Dicas para o professor:· Não force o aluno a fazer as lições quando estiver nervoso por não ter conseguido;· Explique a ele suas dificuldades e diga que está ali para ajudá-lo sempre que precisar;· Proponha jogos na sala;· Não corrija as lições com canetas vermelhas ou lápis;· Procure usar situações concretas, nos problemas.Ajuda do profissional:Um psicopedagogo pode ajudar a elevar sua auto-estima valorizando suas atividades, descobrindo qual o seu processo de aprendizagem através de instrumentos que ajudarão em seu entendimento. Os jogos irão ajudar na seriação, classificação, habilidades psicomotoras, habilidades espaciais, contagem.Recomenda-se pelo menos três sessões semanais.O uso do computador é bastante útil, por se tratar de um objeto de interesse da criança.O neurologista irá confirmar, através de exames apropriados, a dificuldade específica e encaminhar para tratamento. Um neuropsicologista também é importante para detectar as áreas do cérebro afetadas. O psicopedagogo, se procurado antes, pode solicitar os exames e avaliação neurológica ou neuropsicológica.O que ocorre com crianças que não são tratadas precocemente?Comprometimento do desenvolvimento escolar de forma globalO aluno fica inseguro e com medo de novas situaçõesBaixa auto-estima devido a críticas e punições de pais e colegasAo crescer o adolescente / adulto com discalculia apresenta dificuldade em utilizar a matemática no seu cotidiano.Qual a diferença? Acalculia e Discalculia.A discalculia já foi relatada acima.A acalculia ocorre quando o indivíduo, após sofrer lesão cerebral, como um acidente vascular cerebral ou um traumatismo crânio-encefálico, perde as habilidades matemáticas já adquiridas. A perda ocorre em níveis variados para realização de cálculos matemáticos.Cuidado!As crianças, devido a uma série de fatores, tendem a não gostar da matemática, achar chata, difícil. Verifique se não é uma inadaptação ao ensino da escola, ou ao professor que pode estar causando este mal estar. Se sua criança é saudável e está se desenvolvendo normalmente em outras disciplinas não se desespere, mas é importante procurar um psicopedagogo para uma avaliação.Muitas confundem inclusive maior-menor, mais-menos, igual-diferente, acarretando erros que poderão ser melhorados com a ajuda de um professor mais atento.Bibliografia:CARRAHER, Terezinha Nunes (Org.). Aprender Pensando. Petrópolis, Vozes, 2002.GARCÍA, J. N. Manual de Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre, ArtMed, 1998.JOSÉ, Elisabete da Assunção, Coelho, Maria Teresa. Problemas de aprendizagem. São Paulo, Ática, 2002.RISÉRIO, Taya Soledad. Definição dos transtornos de aprendizagem. Programa de (re) habilitação cognitiva e novas tecnologias da inteligência. 2003.http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=133http://www.juliannamartins.ubbi.com.br/pagina2.htmlDislexiaO que é?

Termos usados na psicopedagogia

Termos e significados usados na psicopedagogia e áreas afins

O conhecimento de alguns termos é de fundamental importância para profissionais da área de educação e saúde mental. Pensando nisso selecionamos abaixo alguns termos para que possam servir de consulta. Não é nossa intenção explanar sobre cada um deles, mas apresentar apenas um breve significado. Cabe ao profissional buscar outras fontes para se aprofundar sobre causas, sintomas e tratamentos.
Aprendizagem - É o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maturo, que se expressa diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência.
Agnosia - Etimologicamente, a falta de conhecimento. Impossibilidade de obter informações através dos canais de recepção dos sentidos embora o órgão do sentido não esteja afetado. Ex. a agnosia auditiva é a incapacidade de reconhecer ou interpretar um som mesmo quando é ouvido. No campo médico está associada com uma deficiência neurológica do sistema nervoso.
Afasia - Perda da capacidade de usar ou compreender a linguagem oral. Está usualmente associada com o traumatismo ou anormalidade do sistema nervoso central. Utilizam-se várias classificações tais como afasia expressiva e receptiva, congênita e adquirida.
Agrafia - Impossibilidade de escrever e reproduzir os seus pensamentos por escrito.
Alexia - Perda da capacidade de leitura de letras manuscritas ou impressas.
Anamnese - Levantamento dos antecedentes de uma doença ou de um paciente, incluindo seu passado desde o parto, nascimento, primeira infância, bem como seus antecedentes hereditários.
Anomia - Impossibilidade de designar ou lembrar-se de palavras ou nome dos objetos.
Anorexia - Perda ou diminuição do apetite.
Anoxia - Diminuição da quantidade de oxigênio existente no sangue.
Apnéia - Paragem voluntária dos movimentos respiratórios: retenção da respiração.
Apraxia - Impossibilidade de resposta motora na realização de movimento com uma finalidade. A pessoa não realiza os movimentos apesar de conhecê-lo e não ter qualquer paralisia.
Ataxia - Dificuldade de equilíbrio e de coordenação dos movimentos voluntários.
Autismo - Distúrbio emocional da criança caracterizada por incomunicabilidade. A criança fecha-se sobre si mesma e desliga-se do real impedindo de relacionar-se normalmente com as pessoas. Num diagnóstico incorreto pode ser confundido com retardo mental, surdo-mudez, afasia e outras síndromes.
Bulimia - Fome exagerada de causa psicológica.
Catarse - Efeito provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional ou traumatizante até então reprimida.
Catatonia - Síndrome complexa em que o indivíduo se mantém numa dada posição ou continua sempre o mesmo gesto sem parar. Persistência de atitudes corporais sem sinais de fadiga.
Cinestesia - Impressão geral resultante de um conjunto de sensações internas caracterizado essencialmente por bem-estar ou mal-estar.
Complemento (Closure) - Capacidade de reconhecer o aspecto global, especialmente quando uma ou mais partes do todo está ausente ou quando a continuidade é interrompida por intervalos.
Consciência fonológica - Denomina-se consciência fonológica a habilidade metalinguística de tomada de consciência das características formais da linguagem. Esta habilidade compreende dois níveis:1. A consciência de que a língua falada pode ser segmentada em unidades distintas, ou seja, a frase pode ser segmentada em palavras; as palavras, em sílabas e as sílabas, em fonemas.2. A consciência de que essas mesmas unidades repetem-se em diferentes palavras faladas (rima, por exemplo).
Coordenação viso-motora - É a integração entre os movimentos do corpo (globais e específicos) e a visão.
Disartria - Dificuldade na articulação de palavras devido a disfunções cerebrais.
Discalculia - Dificuldade para a realização de operações matemáticas usualmente ligadas a uma disfunção neurológica, lesão cerebral, deficiência de estruturação espaço-temporal.
Disgrafia - Escrita manual extremamente pobre ou dificuldade de realização dos movimentos motores necessários à escrita. Esta disfunção está muitas vezes ligada a disfunções neurológicas.
Dislalia - É a omissão, substituição, distorção ou acréscimo de sons na palavra falada.
Dislexia - Dificuldade na aprendizagem da leitura, devido a uma imaturidade nos processos auditivos, visuais e tatilcinestésicos responsáveis pela apropriação da linguagem escrita.
Disortografia - Dificuldade na expressão da linguagem escrita, revelada por fraseologia incorretamente construída, normalmente associada a atrasos na compreensão e na expressão da linguagem escrita.
Disgnosia - Perturbação cerebral comportando uma má percepção visual.
Dismetria - Realização de movimentos de forma inadequada e pouco econômica.
Dispnéia - Dificuldade de respirar.
DSM IV - É a classificação dos Transtornos mentais da Associação Americana de Psiquiatria. Descreve as características dos transtornos apresentando critérios diagnósticos. Ver o DSM IV no site psiqueweb: http://gballone.sites.uol.com.br/
Ecolalia - Imitação de palavras ou frases ditas por outra pessoa, sem a compreensão do significado da palavra.
Ecopraxia - Repetição de gestos e praxias.
Enurese - Emissão involuntária de urina.
Esfíncter - Músculo que rodeia um orifício natural. Em psicanálise, na fase anal está ligado ao controle dos esfíncteres.
Espaço-temporal - orientar-se no espaço é ver-se e ver as coisas no espaço em relação a si próprio, é dirigir-se, é avaliar os movimentos e adaptá-los no espaço. É a consciência da relação do corpo com o meio.
Etiologia - Estudo das causas ou origens de uma condição ou doença.
Figura fundo - Capacidade de focar visivelmente ou aditivamente um estímulo, isolando-o perceptivamente do envolvimento que o integra. Ex. identificar alguém numa fotografia do grupo ou identificar o som de um instrumento musical numa melodia.
Gagueira ou tartamudez - distúrbio do fluxo e do ritmo normal da fala que envolve bloqueios, hesitações, prolongamentos e repetições de sons, sílabas, palavras ou frases. É acompanhada rapidamente por tensão muscular, rápido piscar de olhos, irregularidades respiratórias e caretas. Atinge mais homens que mulheres.
Gnosia - Conhecimento, noção e função de um objeto. Segundo Pieron toda a percepção é uma gnosia.
Grafema - Símbolo da linguagem escrita que representa um código oral da linguagem.
Hipercinesia - Movimento e atividade motora constante e excessiva. Também designada por hiperatividade.
Hipocinesia - Ausência de uma quantidade normal de movimentos. Quietude extrema.
Impulsividade - Comportamento caracterizado pela ação de acordo com o impulso, sem medir as conseqüências da ação. Atuação sem equacionar os dados da situação.
Lateralidade - Bem estabelecida - implica conhecimento dos dois lados do corpo e a capacidade de os identificar como direita e esquerda.
Linguagem interior - O processo de interiorizar e organizar as experiências sem ser necessário o uso de símbolos lingüísticos. Ex.: o processo que caracteriza o analfabeto que fala, mas não lê nem escreve.
Linguagem tatibitate - É um distúrbio (e também de fonação) em que se conserva voluntariamente a linguagem infantil. Geralmente tem causa emocional e pode resultar em problemas psicológicos para a criança.
Maturação - É o desenvolvimento das estruturas corporais, neurológicas e orgânicas. Abrange padrões de comportamento resultantes da atuação de algum mecanismo interno.
Memória - Capacidade de reter ou armazenar experiências anteriores. Também designada como "imagem" ou "lembrança".
Memória cinestésica - É a capacidade da criança reter os movimentos motores necessários à realização gráfica. À medida que a criança entra em contato com o universo simbólico (leitura e escrita) vão ficando retidos em sua memória os diferentes movimentos necessários para o traçado gráfico das letras.
Morfema - É a menor unidade gramatical. Na palavra infelicidade encontramos três elementos menores cada um chamado de morfema: in (prefixo), felic (radical), idade (sufixo). Os morfemas são utilizados para construir outras palavras: o prefixo in é utilizado em outras palavras como invariável, invejável, inviável, por exemplo.
Mudez - É a incapacidade de articular palavras, geralmente decorrente de transtornos do sistema nervoso central, atingindo a formulação e a coordenação das idéias e impedindo a sua transmissão em forma de comunicação verbal. Em boa parte dos casos o mutismo decorre de problemas na audição. Os fatores emocionais e psicológicos também estão presentes em algumas formas de mudez. Na mudez eletiva a criança fica muda com determinadas pessoas ou em determinadas situações e em outras não.
Paratonia - É a persistência de uma certa rigidez muscular, que pode aparecer nas quatro extremidades do corpo ou somente em duas. Quando a criamnça caminha ou corre, os braços e as pernas se movimentam mal e rigidamente.
Percepção - processo de organização e interpretação dos dados que são obtidos através dos sentido.
a) Percepção da posição - do tamanho e do movimento de um objeto em relação ao observador.
b) Percepção das relações espaciais - das posições a dois ou mais objetos.
c) Consistência perceptiva - capacidade de precisão perceptiva das propriedade invariantes dos objetos como, por exemplo: forma, posição, tamanho etc.
d) Desordem perceptiva - Distúrbio na conscientização dos objetos, suas relações ou qualidade envolvendo a interpretação da estimulação sensorial.
e) Deficiência perceptiva - Distúrbio na aprendizagem, devido a um distúrbio na percepção dos estímulos sensoriais.
f) Perceptivo-motor - Interação dos vários canais da percepção como da atividade motora. Os canais perceptivos incluem: o visual, o auditivo, o olfativo e o cinestésico.
g) Percepção visual - Identificação, organização e interpretação dos dados sensoriais captados pela visão.
h) Percepção social - Capacidade de interpretação de estímulos do envolvimento social e de relacionar tais interpretações com a situação social.
Preservação - Tendência de continuar uma atividade ininterruptamente; manifesta-se pela incapacidade de modificar, de parar ou de inibir uma dada atividade, mesmo depois do estímulo causador ter sido suprimido.
Problemas de aprendizagem - São situações difíceis enfrentadas pela criança com um desvio do quadro normal mas com expectativa de aprendizagem a longo prazo (alunos multirrepetentes).
Praxia - Movimento intencional, organizado, tendo em vista a obtenção de um fim ou de um resultado determinado.
Rinolalia - Caracteriza-se por uma ressonância nasal maior ou menor que a do padrão correto da fala. Pode ser causada por problemas nas vias nasais, vegetação adenóide, lábio leporino ou fissura palatina.
Ritmo - Habilidade importante, pois dá à criança a noção de duração e sucessão, no que diz respeito à percepção dos sons no tempo. A falta de habilidade rítmica pode causar uma leitura lenta, silabada, com pontuação e entonação inadequadas.
Sincinesia - É a participação de músculos em movimentos aos quais eles não são necessários. Ex.: coloca-se um objeto numa mão da criança e pede-se que ela aperte, a outra mão também se fechará ao mesmo tempo. Ficar sobre um só pé, para ela é impossível. Há descontinuidade nos gestos, imprecisão de movimentos nos braços e pernas, os movimentos finos dos dedos não são realizados e, num dado ritmo, não podem ser reproduzidos através de atos coordenados, nem por imitação.
Sintaxe - Parte da gramática que estuda a disposição das palavras na frase e a das frases no discurso , bem como a relação lógica das frases entre si e a correta construção gramatical ; construção gramatical (Dicionário Aurélio)
Sinergia - Atuação coordenada ou harmoniosa de sistemas ou de estruturas neurológicas de comportamento.
Somestésico - Relativo à sensibilidade do corpo.
Bibliografia:

FONSECA, Vitor - Escola. Quem és tu? Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
ASSUNÇÃO, Elisabete da. COELHO, Maria Teresa. Problemas de aprendizagem. São Paulo, SP: Editora Ática, 2002.
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Simaia Sampaio Maia Medrado de Araújo© 2004 [Psicopedagogiabrasil]. Todos os direitos reservados.Revisado em: 17/05/2008
DISTÚRBIOS, TRANSTORNOS, DIFICULDADES E PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM: Juliana Zantut Nutti
A definição do que se considera como distúrbio, transtorno, dificuldade e/ou problema de aprendizagem é uma das mais inquietantes problemáticas para aqueles que se atuam no diagnóstico, prevenção e reabilitação do processo de aprendizagem, pois envolve uma vasta literatura fundamentada em concepções nem sempre coincidentes ou convergentes. O grande número de obras relacionadas à temática impede que se contemplem todas as definições e abordagens sobre os conceitos mencionados. Pretende-se, no presente artigo, a partir de uma revisão bibliográfica, empreender uma descrição dos conceitos recorrentes na literatura especializada e discutir-se algumas perspectivas de análise sobre o que se vem denominando como “dificuldade de aprendizagem”, a fim de propor um painel provisório acerca da temática. Como síntese apresenta-se a análise de Romero (1995), que situa as diversas teorias ou modelos de concepção sobre as dificuldades de aprendizagem em um contínuo pessoa - ambiente, defendendo uma posição intermediária, integradora e interacionista, baseada em um concepção dialética das dificuldades de aprendizagem, na qual posições aparentemente opostas podem dialogar e serem complementares entre si.
Introdução
A literatura a respeito do diagnóstico e tratamento de distúrbios, transtornos, dificuldades ou problemas de aprendizagem é vasta e fundamentada em concepções, muitas vezes, divergentes entre si.
Devido o grande número de obras relacionadas ao assunto, torna-se inviável contemplar todas as possíveis definições e abordagens sobre esses conceitos. Portanto, nesse texto pretendemos analisar os conceitos mais comumente utilizados na literatura especializada e algumas das muitas perspectivas de análise sobre as dificuldades de aprendizagem, procurando traçar um panorama (ainda que provisório) sobre essa temática.
Segundo Moojen (1999), os termos distúrbios, transtornos, dificuldades e problemas de aprendizagem tem sido utilizados de forma aleatória, tanto na literatura especializada como na prática clínica e escolar, para designar quadros diagnósticos diferentes.
Na mesma perspectiva, França (1996) coloca que a utilização dos termos distúrbios, problemas e dificuldades de aprendizagem é um dos aspectos menos conclusivos para aqueles que iniciam a formação em Psicopedagogia. Para o autor, aparentemente os defensores da abordagem comportamental preferem a utilização do termo distúrbio, enquanto os construtivistas parecem ser adeptos do termo dificuldade. Ainda de acordo com o autor, aparentemente a distinção feita entre os termos dificuldades e distúrbios de aprendizagem esteja baseada na concepção de que o termo “dificuldade” está mais relacionado à problemas de ordem psicopedagógica e/ou sócio - culturais, ou seja, o problema não está centrado apenas no aluno, sendo que essa visão é mais freqüentemente utilizado em uma perspectiva preventiva; por outro lado, o termo “distúrbio” está mais vinculado ao aluno, na medida em que sugere a existência de comprometimento neurológicos em funções corticais específicas, sendo mais utilizado pela perspectiva clínica ou remediativa.

Distúrbios de aprendizagem
Collares e Moysés (1992) analisaram o conceito de distúrbios de aprendizagem do ponto de vista etimológico e a partir do conceito proposto pelo National Joint Comittee for Learning Disabilities (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), Estados Unidos da América.
Etimologicamente, a palavra distúrbio compõem-se do radical turbare e do prefixo dis. O radical turbare significa “alteração violenta na ordem natural” e pode ser identificado também nas palavras turvo, turbilhão, perturbar e conturbar. O prefixo dis tem como significado “alteração com sentido anormal, patológico” e possui valor negativo. O prefixo dis é muito utilizado na terminologia médica (por exemplo: distensão, distrofia). Em síntese, do ponto do vista etimológico, a palavra distúrbio pode ser traduzida como “anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural”
Segundo as autoras, seguindo a mesma perspectiva etimológica, a expressão distúrbios de aprendizagem teria o significado de “anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural da aprendizagem”, obviamente localizada em quem aprende. Portanto, um distúrbio de aprendizagem obrigatoriamente remete a um problema ou a uma doença que acomete o aluno em nível individual e orgânico.
De acordo com Collares e Moysés (1992), o uso da expressão distúrbio de aprendizagem tem se expandido de maneira assustadora entre os professores, apesar da maioria desses profissionais nem sempre conseguir explicar claramente o significado dessa expressão ou os critérios em que se baseiam para utilizá-la no contexto escolar. Na opinião das autoras, a utilização desmedida da expressão distúrbio de aprendizagem no cotidiano escolar seria mais um reflexo do processo de patologização da aprendizagem ou da biologização das questões sociais.
De acordo com a definição estabelecida em 1981 pelo National Joint Comittee for Learning Disabilities (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), nos Estados Unidos da América,
Distúrbios de aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com outras condições desfavoráveis (por exemplo, alteração sensorial, retardo mental, distúrbio social ou emocional) ou influências ambientais (por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resultado direto dessas condições ou influências. (Collares e Moysés, 1992: 32)

O National Joint Comittee for Learning Disabilities é considerado, nos Estados Unidos da América, como o órgão competente para normatizar os assuntos referentes aos distúrbios de aprendizagem. A fim de prevenir a ocorrência de erros de interpretação o Comitê publicou a definição acima apresentada com explicações específicas ao longo de cada frase.
A frase “estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso central”, por exemplo, vem acompanhada da explicação de que a fonte do distúrbio deve ser encontrada internamente à pessoa que é afetada e que a causa do distúrbio de aprendizagem é uma disfunção conhecida ou presumida no sistema nervoso central. Acerca da evidência concreta de organicidade relacionada ao distúrbio de aprendizagem, o Comitê afirma que, apesar de não ser necessário que tal evidência esteja presente, é necessário que, pelo menos, uma disfunção do sistema nervoso central seja a causa suspeita para que o distúrbio possa ser diagnosticado.
No entanto, segundo Ross (1979, citado por Miranda, 2000), a utilização do termo “distúrbio de aprendizagem”, chama a atenção para a existência de crianças que freqüentam escolas e apresentam dificuldades de aprendizagem, embora aparentemente não possuam defeitos físicos, sensoriais, intelectuais ou emocionais. Esse rótulo, segundo o autor, ocasionou durante anos que tais crianças fossem ignoradas, mal diagnosticadas ou maltratadas e as dificuldades que demonstravam serem designadas de várias maneira como “hiperatividade”, “síndrome hipercinética”, “síndrome da criança hiperativa”, “lesão cerebral mínima”, disfunção cerebral mínima”, “dificuldade de aprendizagem” ou “disfunção na aprendizagem.”
Para Collares e Moysés (1992), os distúrbios de aprendizagem seriam frutos do pensamento médico, surgindo como entidades nosológicas e com o caráter de doenças neurológicas.

Transtornos de aprendizagem
Outra terminologia recorrente na literatura especializada é a palavra “transtorno”. Segundo a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da Classificação Internacional de Doenças - 10, elaborado pela Organização Mundial de Saúde:
O termo “transtorno” é usado por toda a classificação, de forma a evitar problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos tais como “doença” ou “enfermidade”. “Transtorno” não é um termo exato, porém é usado para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecível associado, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com funções pessoais (CID - 10, 1992: 5).

A Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da Classificação Internacional de Doenças - 10 (ou, simplesmente CID - 10) situa os problemas referentes à aprendizagem na classificação Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares (F81), que, por sua vez, está inserida na categoria mais ampla de Transtornos do desenvolvimento psicológico (F80 - 89).
Segundo o CID - 10, todos os transtornos incluídos na categoria Transtornos do desenvolvimento psicológico (F80 - 89), inclusive os Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares (F81), possuem os seguintes aspectos em comum:
- um início que ocorre invariavelmente no decorrer da infância;
- um comprometimento ou atraso no desenvolvimento de funções que são fortemente relacionadas à maturação biológica do sistema nervoso central;
- um curso estável que não envolve remissões (desaparecimentos) e recaídas que tendem a ser características de muitos transtornos mentais.
Segundo o CID - 10:
Na maioria dos casos, as funções afetadas incluem linguagem, habilidades visuoespaciais e/ou coordenação motora. É característico que os comprometimentos diminuam progressivamente à medida que a criança cresce (embora déficits mais leves freqüentemente perdurem na vida adulta). Em geral, a história é de um atraso ou comprometimento que está presente desde tão cedo quando possa ser confiavelmente detectado, sem nenhum período anterior de desenvolvimento normal. A maioria dessas condições é mais comum em meninos que em meninas. (Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da Classificação Internacional de Doenças - 10, 1992: 228).

Em relação aos Transtornos do desenvolvimento psicológico (F80 - 89), o documento coloca que é característicos a esses tipos de transtornos que uma história familiar de transtornos similares ou relacionados esteja presente e que fatores genéticos tenham um papel importante na etiologia (conjunto de possíveis causas) de muitos (mas não de todos) os casos. Os fatores ambientais freqüentemente podem influenciar as funções de desenvolvimento afetadas, porém, na maioria dos casos, esses fatores não possuem uma influência predominante. E adverte que, embora exista uma concordância na conceituação global dos transtornos do desenvolvimento psicológico, a etiologia na maioria dos casos é desconhecida e há incerteza contínua com respeito a ambos (CID - 10, 1992: 228).
Acerca dos Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares (F81), o documento coloca que
(...) são transtornos nos quais os padrões normais de aquisição de habilidades são perturbados desde os estágios iniciais do desenvolvimento. Eles não são simplesmente uma conseqüência de uma falta de oportunidade de aprender nem são decorrentes de qualquer forma de traumatismo ou de doença cerebral adquirida. Ao contrário, pensa-se que os transtornos originam-se de anormalidades no processo cognitivo, que derivam em grande parte de algum tipo de disfunção biológica (CID - 10, 1992: 236).

Quanto ao diagnóstico desses tipos de transtornos, o CID - 10 alerta que existem cinco tipos de dificuldades para que esse seja estabelecido, dos quais destacam-se:
- a necessidade de diferenciar os transtornos de variações normais nas realizações escolares;
- a necessidade de levar em consideração o curso do desenvolvimento, pois, em primeiro lugar, o significado de um atraso de um ano em leitura, na idade de 7 anos é diferente do atraso de um anos aos 14 anos de idade. Em segundo lugar, é comum que um atraso de linguagem nos anos pré - escolares desapareça no que diz respeito à linguagem falada, mas seja seguido por um atraso específico na leitura, o qual, por sua vez, pode diminuir na adolescência, ou seja, a condição é a mesma ao longo do tempo, mas o padrão se altera com o aumento da idade;
- a dificuldade de que as habilidades escolares têm que ser ensinadas e aprendidas: essas habilidades não são apenas resultados da maturação biológica e, dessa maneira, o nível de habilidades de uma criança dependerá das circunstâncias familiares e da escolaridade, além de suas próprias características individuais.
Fazem parte da categoria Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares (F81), as seguintes subcategorias:
F81.0 - Transtorno específico da leitura
F81.1 - Transtorno específico do soletrar
F81.2. - Transtorno específico de habilidades aritméticas
F81.3 - Transtorno misto das habilidades escolares
F81.8 - Outros transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares
F81.9 - Transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares, não especificado

De acordo com o CID - 10, os Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares são compostos por grupos de transtornos manifestados por comprometimentos específicos e significativos no aprendizado de habilidades escolares, comprometimentos esses que não são resultado direto de outros transtornos, como o retardo mental, os déficits neurológicos grosseiros, os problemas visuais ou auditivos não corrigidos ou as perturbações emocionais, embora eles possam ocorrer simultaneamente com essas condições. Os transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares geralmente ocorrem junto com outras síndromes clínicas, como por exemplo, o transtorno de déficit de atenção ou o transtorno de conduta, ou outros transtornos do desenvolvimento, tais como o transtorno específico do desenvolvimento da função motora ou os transtornos específicos do desenvolvimento da fala e linguagem.
As possíveis causas dos Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares não são conhecidas, mas supõe-se que exista a predominância de fatores biológicos, os quais interagem com fatores não biológicos, como oportunidade para aprender e qualidade do ensino. É um fator diagnóstico importante que os transtornos se manifestem durante os primeiros anos de escolaridade. Portanto, segundo o CID - 10, o atraso do desempenho escolar de crianças em um estágio posterior de suas vidas escolares, devido à falta de interesse, a um ensino deficiente, a perturbações emocionais ou ao aumento ou mudança no padrão de exigência das tarefas, não podem ser considerados Transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares.
Ao lado da definição proposta pelo CID - 10, apresentados a análise realizada por Moojen (1999) sobre o conceito de Transtornos de Aprendizagem, a partir do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM - IV). Segundo essa análise, o termo Transtorno de Aprendizagem situa-se na categoria dos Transtornos geralmente diagnosticados pela primeira vez na infância ou adolescência, sendo classificado em Transtorno de Leitura, Transtorno de Matemática e Transtorno da Expressão Escrita. Os Transtornos de Aprendizagem são diagnosticados quando o desempenho de indivíduos submetidos a testes padronizados de leitura, matemática ou expressão escrita está significativamente abaixo do esperado para a idade, escolarização e nível de inteligência. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM - IV) estima que a prevalência dos Transtornos de Aprendizagem seja na faixa de 2 a 10% da população, dependendo da natureza da averiguação e das definições explicadas.

Dificuldades ou problemas de aprendizagem
Moojen (1999) afirma que, ao lado do pequeno grupo de crianças que apresenta Transtornos de Aprendizagem decorrente de imaturidade do desenvolvimento e/ou disfunção psiconeurológica, existe um grupo muito maior de crianças que apresenta baixo rendimento escolar em decorrência de fatores isolados ou em interação. As alterações apresentadas por esse contingente maior de alunos poderiam ser designado como “dificuldades de aprendizagem”. Participariam dessa conceituação os atrasos no desempenho escolar por falta de interesse, perturbação emocional, inadequação metodológica ou mudança no padrão de exigência da escola, ou seja, alterações evolutivas normais que foram consideradas no passado como alterações patológicas.
Pain (1981, citado por Rubinstein, 1996) considera a dificuldade para aprender como um sintoma, que cumpre uma função positiva tão integrativa como o aprender, e que pode ser determinado por:
1. Fatores orgânicos: relacionados com aspectos do funcionamento anatômico, como o funcionamento dos órgãos dos sentidos e do sistema nervoso central;
2. Fatores específicos: relacionados à dificuldades específicas do indivíduo, os quais não são passíveis de constatação orgânica, mas que se manifestam na área da linguagem ou na organização espacial e temporal, dentre outros;
3. Fatores psicógenos: é necessário que se faça a distinção entre dificuldades de aprendizagem decorrentes de um sintoma ou de uma inibição. Quando relacionado ao um sintoma, o não aprender possui um significado inconsciente; quando relacionado a uma inibição, trata-se de uma retração intelectual do ego, ocorrendo uma diminuição das funções cognitivas que acaba por acarretar os problemas para aprender;
4. Fatores ambientais: relacionados às condições objetivas ambientais que podem favorecer ou não a aprendizagem do indivíduo.

Fernández (1991) também considera as dificuldades de aprendizagem como sintomas ou “fraturas” no processo de aprendizagem, onde necessariamente estão em jogo quatro níveis: o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo. A dificuldade para aprender, segundo a autora, seria o resultado da anulação das capacidades e do bloqueamento das possibilidades de aprendizagem de um indivíduo e, a fim de ilustrar essa condição, utiliza o termo inteligência aprisionada (atrapada, no idioma original).
Para a autora, a origem das dificuldades ou problemas de aprendizagem não se relaciona apenas à estrutura individual da criança, mas também à estrutura familiar a que a criança está vinculada. As dificuldades de aprendizagem estariam relacionadas às seguintes causas:
1. Causas externas à estrutura familiar e individual: originariam o problema de aprendizagem reativo, o qual afeta o aprender mas não aprisiona a inteligência e, geralmente, surge do confronto entre o aluno e a instituição;
2. Causas internas à estrutura familiar e individual: originariam o problema considerado como sintoma e inibição, afetando a dinâmica de articulações necessárias entre organismo, corpo, inteligência e desejo, causando o desejo inconsciente de não conhecer e, portanto, de não aprender;
3. Modalidades de pensamento derivadas de uma estrutura psicótica, as quais ocorrem em menor número de casos;
4. Fatores de deficiência orgânica: em casos mais raros.
A aprendizagem e seus desvios, para Fernández, compreendem não somente a elaboração objetivante, como também a elaboração subjetivante, as quais estão relacionadas às experiências pessoais, aos intercâmbios afetivos e emocionais, recordações e fantasias (Miranda, 2000).

Em busca de uma síntese (ainda que provisória)
Em uma tentativa de síntese, apresentaremos a proposta de análise de Romero (1995), o qual afirma que, apesar da proliferação de teorias e modelos explicativos com a pretensão, nem sempre bem - sucedida, de esclarecer as dificuldades aprendizagem, em geral essas costumam ser atribuídas a:
1. Variáveis pessoais, como a heterogeneidade ou a lesões cerebrais;
2. Variáveis ambientais, como ambientes familiares e educacionais inadequados;
3. Combinação interativa de ambos os tipos.
Segundo o autor, é possível situar as diferentes teorias ou modelos de concepção das dificuldades de aprendizagem em um contínuo pessoa - ambiente, dependendo da ênfase na responsabilidade da pessoa ou do ambiente na causa da dificuldade.
Em um extremo estariam todas as explicações que se centram no aluno e que compartilham a concepção da pessoa como um ser ativo, considerando o organismo como a fonte de todos os atos. No outro extremo, estariam situadas as correntes de cunho ambiental, que estão ligadas, em maior ou menor grau, a uma concepção mecanicista do desenvolvimento, considerando que a pessoa é controlada pelos estímulos do ambiente externo.
Para melhor visualização, reproduz-se abaixo o quadro originalmente elaborado pelo autor:

As teorias sobre a origem das dificuldades de aprendizagem
situadas em um contínuo pessoa - ambiente segundo a ênfase na importância
daquela ou deste na causa das dificuldades


P ® Teorias sobre déficits neurológicos
E ® Teoria sobre déficits de processos
S psiconeurológicos subjacentes: - Perceptivos
S ® Linguísticos
O ® Teorias sobre atrasos maturativos: Do Sistema Nervoso Central
A ® De funções psicológicas
® Teorias sobre deficiências no processamento ativo da informação
A
M - Baseadas em processos psicológicos subjacentes
B ® Teorias integradoras - Baseadas no processamento da informação
I
E ® Teorias centradas no ambiente
N sócio - educacional do aluno: - No ambiente sociológico
T - No ambiente educacional
E ® Teorias centradas na tarefa


Fonte: ROMERO, J. F. Os atrasos maturativos e as dificuldades de aprendizagem. In: COLL. C., PALACIOS, J., MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, v. 3

No entanto, segundo Romero (1995), as posições nem sempre limitam-se a uma ou outra dessas categorias: será difícil encontrar, nos dias de hoje, um defensor de causas neurológicas que descarte completamente a importância dos diversos determinantes ambientais, assim como que quem enfatiza a importância dos fatores puramente acadêmicos não pode ignorar a influência de certos processos psiconeurológicos e ambientais.
Nesse sentido, Scoz (1994: 22) coloca que
(...) os problemas de aprendizagem não são restringíveis nem a causas físicas ou psicológicas, nem a análises das conjunturas sociais. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque multidimensal, que amalgame fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos, percebidos dentro das articulações sociais. Tanto quanto a análise, as ações sobre os problemas de aprendizagem devem inserir-se num movimento mais amplo de luta pela transformação da sociedade.

Portanto, em posições intermediárias do contínuo pessoa - ambiente deve-se situar a maioria dos autores, os quais defendem posturas integradoras e interacionistas, baseadas em um concepção dialética das dificuldades de aprendizagem, na qual posições aparentemente opostas podem dialogar e serem complementares entre si.Para fazer o download clique aqui.
Referências bibliográficas
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Organização Mundial de Saúde (Org.). Porto Alegre: Artes Médicas, 1993
COLLARES, C. A. L. e MOYSÉS, M. A. A. A História não Contada dos Distúrbios de Aprendizagem. Cadernos CEDES no 28, Campinas: Papirus, 1993, pp.31-48.
FERNÁNDEZ. A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e da família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991
FRANÇA, C. Um novato na Psicopedagogia. In: SISTO, F. et al. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996
MIRANDA, M. I. Crianças com problemas de aprendizagem na alfabetização: contribuições da teoria piagetiana. Araraquara, SP: JM Editora, 2000
MOOJEN, S. Dificuldades ou transtornos de aprendizagem? In: Rubinstein, E. (Org.). Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999
ROMERO, J. F. Os atrasos maturativos e as dificuldades de aprendizagem. In: COLL. C., PALACIOS, J., MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, v. 3
RUBISTEIN, E. A especificidade do diagnóstico psicopedagógico. In: SISTO, F. et al. Atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996
SCOZ, B. Psicopedagogia e realidade escolar, o problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis: Vozes, 1994
Publicado em 01/05/2002
Juliana Zantut Nutti - Psicóloga, Doutora em Educação pela UFSCar

Transtornos psiquiátricos na infância

TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS NA INFÂNCIA

O pensar, a capacidade de utilizar uma linguagem escrita, falada ou ainda de experimentar sentimentos não nascem com a criança, estando profundamente relacionados a seu desenvolvimento.Desde o nascimento, o bebê vai tendo experiências na relação com a mãe ou com quem o cuida que lhe vão permitindo, de forma rudimentar, classificar "o que é igual ou diferente". Ao cuidar do bebê, a mãe deverá ser capaz de "traduzir", à sua maneira, as necessidades do mesmo. Os gestos ou tipos de cuidados fazem com que o bebê aprenda a discriminar as suas sensações do ambiente externo. Dessa maneira, é de suma importância que o cuidador tolere sensivelmente o desconforto do bebê, administrando os cuidados necessários afetivamente, para que dessa maneira a criança construa uma integrada condição emocional.Existem, entretanto, transtornos psiquiátricos que podem ocorrer no desenvolvimento da criança, os quais examinaremos a seguir e que são:Transtornos da aprendizagem, transtornos das habilidades motoras e transtornos da comunicação (linguagem)Os transtornos da aprendizagem referem-se a dificuldades na leitura, na capacidade matemática ou nas habilidades de escrita, medidas por testes padrões que estão substancialmente abaixo do esperado, considerando-se a idade da criança, seu quociente de inteligência (QI ) e grau de escolaridade.No transtorno das habilidades motoras, o desempenho em atividades diárias que exigem coordenação motora está abaixo do esperado para a idade, como por exemplo atraso para sentar, engatinhar, caminhar, deixar cair coisas, fraco desempenho nos esportes ou caligrafia insatisfatória. Muitas vezes essa criança é vista como desajeitada, tropeçando com freqüência ou inábil para abotoar suas roupas ou amarrar os cadarços do sapato.Nos transtornos da comunicação a perturbação pode manifestar-se por sintomas que incluem um vocabulário limitado, erros grosseiros na conjugação de verbos, dificuldade para evocar palavras ou produzir frases condizentes com sua idade cronológica. Os problemas de linguagem também podem ser causados por perturbações na capacidade de articular sons ou palavras.Não é raro a presença de mais de um desses transtornos de aprendizagem em uma mesma criança, muitas vezes estando associados com o transtorno de hiperatividade e déficit de atenção. O tratamento das dificuldades de aprendizagem inclui muitas vezes reforço escolar, tratamento psicopedagógico ou até mesmo encaminhamentos para escolas especiais, dependendo da gravidade do problema. A baixa auto-estima, a repetência escolar e o abandono da escola são complicações comuns nesses transtornos. Assim, a abordagem psicopedagógica e o aconselhamento escolar são cruciais. Pode estar indicada também tanto a psicoterapia individual quanto a de grupo ou familiar, conforme a situação. O tratamento com medicação está indicado apenas em casos comprovadamente associados a transtorno de hiperatividade e/ou déficit de atenção.Transtorno do déficit de atenção-hiperatividadeAs crianças com esse transtorno são consideradas, com freqüência, crianças com um temperamento difícil. Elas prestam atenção a vários estímulos, não conseguindo se concentrar em uma tarefa única e, assim, cometendo erros muitas vezes grosseiros. É comum terem dificuldade para manter a atenção, mesmo em atividades lúdicas e com freqüência parecem não escutar quando chamadas. Muitas vezes não conseguem terminar seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais. Têm dificuldade para organizar tarefas, evitando, antipatizando ou relutando em envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante. Costumam perder facilmente objetos de uso pessoal. Esquecem facilmente atividades diárias.A hiperatividade aparece como uma inquietação, manifesta por agitação de mãos ou pés e não conseguir permanecer parado na cadeira. São crianças que quase sempre saem de seus lugares em momentos não apropriados, correm em demasia, têm dificuldade de permanecer em silêncio, estando freqüentemente "a mil".Outra característica desse transtorno é a impulsividade, que aparece em respostas precipitadas mesmo antes de as perguntas terem sido completadas. Com freqüência, são crianças que têm dificuldade de aguardar sua vez, interrompendo ou intrometendo-se em assuntos alheios.O transtorno deve ser diagnosticado e tratado ainda na infância para não causar maiores prejuízos ao desenvolvimento interpessoal e escolar da criança. O tratamento inclui psicoterapia individual e, às vezes, terapia familiar. Quase sempre faz-se necessário o uso de medicação com um resultado muito satisfatório.Transtornos de CondutaOs transtornos de conduta são caracterizados por um padrão repetitivo e persistente de comportamento agressivo, desafiador, indo contra as regras de convivência social. Tal comportamento deve ser suficientemente grave, sendo diferente de travessuras infantís ou rebeldia "normal" da adolescência. Esses transtornos estão freqüentemente associados à ambientes psicossociais adversos, tais como: instabilidade familiar, abuso físico ou sexual, violência familiar, alcoolismo e sinais de severa perturbação dos pais. Ocorre mais freqüentemente no sexo masculino. São crianças que agridem pessoas e animais, envolvem-se em brigas, em destruição de propriedade alheia, furtos ou ainda agressão sexual. Sérias violações de regras, como fugir de casa, não comparecimento sistemático à aula e enfrentamento desafiador e hostil com os pais também são sinais da doença.A perturbação no comportamento causa prejuízo significativo no funcionamento social, escolar ou ocupacional. O tratamento baseia-se em remédios e psicoterapia individual e familiar, sendo que em casos mais graves está indicado a institucionalização ou internação em unidades corretivas por períodos bastante prolongados.Transtornos Depressivos na InfânciaO reconhecimento de transtornos depressivos na infância ocorreu no final da década de 60. Surgiram então três conceitos:sintomas depressivos análogos aos dos adultos não existem;a depressão manifesta-se por sintomas específicos nessa faixa etária;a sintomatologia depressiva surge mascarada por outros sintomas ou síndromes,tais como hiperatividade, enurese, encoprese, déficit de aprendizagem e transtorno de conduta.Transtornos depressivos ocorrem tanto em meninos quanto em meninas. Os sintomas de depressão podem ser : isolamento, calma excessiva, agitação, condutas auto e hetero-agressivas, intensa busca afetiva, alternando atitudes prestativas com recusas de relacionamento. A socialização está geralmente perturbada: pode haver recusa em brincar com outras crianças e dificuldade para aquisição de habilidades. As queixas somáticas são freqüentes: dificuldade do sono (despertar noturno, sonolência diurna), alteração do padrão alimentar. Queixas de falta de ar, dores de cabeça e no estômago, problemas intestinais e suor frio também são freqüentes.A criança deprimida apresenta incapacidade para divertir-se, algumas vezes queixando-se de estar aborrecida. Assistem muita televisão não se importando qual seja o programa. A baixa auto-estima e a culpa excessiva, além da diminuição do rendimento escolar são característicos da depressão. Apresentam também muita irritabilidade, sendo descritas pelos pais como mal humoradas.Os transtornos depressivos da infância podem ser classificados em duas formas bem distintas. A primeira delas, a distimia que, etmológicamente significa "mal-humorado", é uma forma crônica de depressão com início insidioso, podendo durar toda a vida da pessoa. Para firmar este diagnóstico é preciso que o humor seja depressivo ou irritável e esteja presente quase todos os dias por pelo menos um ano.A outra forma de depressão, transtorno depressivo maior é caracterizada por períodos ou crises apresentando uma síndrome depressiva completa (todos os sintomas descritos anteriormente) por pelo menos duas semanas, causando importantes prejuízos na vida da criança. Podem estar presentes alucinações, ideação ou condutas suicidas. Essa crise é nitidamente diferente do funcionamento habitual da criança.Os transtornos depressivos são bastante tratáveis hoje em dia, obtendo-se bons resultados. Pais que desconfiem que um filho sofra desse mal devem levá-lo a um psiquiatra ou serviço de psiquiatria para uma avaliação. O tratamento utiliza medicações antidepressivas e acompanhamento psicológico. Internações são necessárias em duas situações: quando o paciente fica psicótico (fora da realidade), o que é raro, ou quando existe risco de suicídio

.Transtornos Globais do Desenvolvimento (Autismo Infantil)Esse grupo de transtornos é caracterizado por severas anormalidades nas interações sociais recíprocas, nos padrões de comunicação estereotipados e repetitivos, além de um estreitamento nos interesses e atividades da criança. Costumam se manifestar nos primeiros cinco anos de vida . Existem várias formas de apresentação dos transtornos globais, não havendo até o presente momento um consenso quanto à forma de classificá-los.A forma mais conhecida é o Autismo Infantil, definido por um desenvolvimento anormal que se manifesta antes dos três anos de vida, não havendo em geral um período prévio de desenvolvimento inequivocamente normal. As crianças com transtorno autista podem ter alto ou baixo nível de funcionamento, dependendo do QI, da capacidade de comunicação e do grau de severidade nos seguintes itens:prejuízo acentuado no contato visual direto, na expressão facial, posturas corporais e outros gestos necessários para comunicar-se com outras pessoas.fracasso para desenvolver relacionamentos com outras crianças, ou até mesmo com seus pais.falta de tentativa espontânea de compartilhar prazer, interesses ou realizações com outras pessoas (por exemplo: não mostrar, trazer ou apontar objetos de interesse ).atraso ou ausência total da fala ( não acompanhado por uma tentativa para compensar através de modos alternativos de comunicação, tais como gestos ou mímicas ).em crianças com fala adequada, acentuado prejuízo na capacidade de iniciar ou manter uma conversa.uso repetitivo de mesmas palavras ou sons.ausência de jogos ou brincadeiras variadas de acordo com a idade.a criança parece adotar uma rotina ou ritual específico em seu ambiente, com extrema dificuldade e sofrimento quando tem que abrir mão da mesma.movimentos repetitivos ou complexos do corpo.preocupação persistente com partes de objetos.Outras formas de transtornos globais do desenvolvimento são:Autismo atípico,Síndrome de Rett,Transtorno desintegrativo da infância,Síndrome de Asperger.O tratamento do transtorno autista visa principalmente uma educação especial com estimulação precoce da criança. A terapia de apoio familiar é muito importante: os pais devem saber que a doença não resulta de uma criação incorreta e necessitam de orientações para aprenderem a lidar com a criança e seus irmãos. Muitas vezes se faz necessário o uso de medicações para controlar comportamentos não apropriados e agressivos. O prognóstico destes transtornos é muito reservado e costumam deixar importantes seqüelas ou falhas no desenvolvimento dessas pessoas na idade adulta.Transtornos de TiqueA manifestação predominante nessas síndromes é alguma forma de tique. Um tique é uma produção vocal ou movimento motor involuntário, rápido, recorrente (repetido) e não rítmico (usualmente envolvendo grupos musculares circunscritos), sem propósito aparente e que tem um início súbito. Os tiques motores e vocais podem ser simples ou complexos. Os tiques simples em geral são os primeiros a aparecer. Podem ser:tiques motores simples: piscar os olhos, balançar a cabeça, fazer caretas.tiques vocais simples: tossir, pigarrear, fungar.tiques motores complexos: bater-se, saltar.tique vocal complexo: coprolalia (uso de termos chulos), palilalia (repetição das próprias palavras), ecolalia (repetição de palavras alheias).O tratamento requer medicação e psicoterapia, principalmente para diminuir o isolamento social que comumente ocorre nesse transtorno.


Transtornos da ExcreçãoEsse transtorno inclui a enurese e a encoprese . A enurese é caracterizada por eliminação de urina de dia e/ou a noite, a qual é anormal em relação à idade da criança e não decorrente de nenhuma patologia orgânica. A enurese pode estar presente desde o nascimento ou pode surgir seguindo-se a um período de controle vesical adquirido. A enurese não costuma ser diagnosticada antes da criança completar cinco anos de idade e requer, para ser caracterizada, uma freqüência de duas vezes por semana, por pelo menos três meses.A encoprese é a evacuação repetida de fezes em locais inadequados (roupas ou chão), involuntária ou intencional. Para se fazer o diagnóstico é preciso que esse sintoma ocorra pelo menos uma vez por mês, por no mínimo três meses em crianças com mais de quatro anos. Ambas patologias podem ocorrer pelo nascimento de um irmão, separação dos pais ou outro evento que possa traumatizar a criança. A encoprese deliberada pode significar grave comprometimento emocional. Ambas podem durar anos, mas acabam evoluindo para uma remissão espontânea. Esses transtornos comumente geram intenso sofrimento na criança, levando a uma estigmatização, com conseqüente baixa da auto-estima. Geram também isolamento social e perturbações no ambiente e nas relações familiares.O tratamento abrange psicoterapia e utilização de medicamentos.

Transtornos de Ansiedade na InfânciaA ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão, caracterizado por tensão ou desconforto derivados de uma antecipação de perigos. As crianças em geral não reconhecem quando seus medos são exagerados ou irracionais. Uma maneira prática de diferenciar ansiedade normal de ansiedade patológica é avaliar se a reação ansiosa é de curta duração, auto limitada e relacionada ao estímulo do momento. Os sintomas de ansiedade podem ocorrer em varias outras condições psiquiátricas tais como: depressões, psicoses, transtornos do desenvolvimento, transtorno hipercinético, entre outros. A causa dos transtornos ansiosos infantís é muitas vezes desconhecida e provavelmente multifatorial, incluindo fatores hereditários e ambientais diversos, com o peso relativo de cada fator variando de caso a caso.

Transtorno da Ansiedade de SeparaçãoEsse é o mais comum dos transtornos de ansiedade, acometendo 4% das crianças. Caracteriza-se por uma ansiedade não apropriada e excessiva em relação à separação do lar (pais) ou de figuras importantes cuidadoras para a criança, inadequada para a fase do desenvolvimento da criança. Essas crianças, quando ficam sozinhas, temem que algo possa acontecer para elas ou para seus cuidadores (acidentes, seqüestro, assaltos, ou doenças) que os afastem definitivamente de si. Demonstram um comportamento excessivo de apego aos seus cuidadores, não permitindo o afastamento desses ou telefonando repetidamente para eles afim de tranqüilizar-se sobre seus temores. É comum nessas crianças a ocorrência de recusa escolar. Se a criança sabe que seus pais vão se ausentar apresenta manifestações somáticas de ansiedade (dor abdominal, dor de cabeça, náusea, vômitos, palpitações, tonturas e sensação de desmaio). Em muitos casos de crianças afetadas os pais foram ou são portadores de algum transtorno de ansiedade.A perturbação tem uma duração mínima de quatro semanas e causa sofrimento significativo no funcionamento da vida da criança.O tratamento requer psicoterapia individual com orientação familiar e intervenções farmacológicas quando os sintomas são graves e incapacitantes. Quando há recusa escolar, o retorno às aulas deve ser o mais rápido possível para evitar cronicidade e evasão. É muito importante haver uma sintonia entre pais, escola e terapeuta.

Fobias específicas e Fobia socialAs fobias específicas são definidas pela presença de medo excessivo e persistente, relacionado a um determinado objeto ou situação. Exposta ao estímulo fóbico, a criança procura correr para perto de um dos pais ou de alguém que a faça sentir-se protegida. Pode apresentar crises de choro, desespero, imobilidade, agitação psicomotora ou até mesmo ataque de pânico. Os medo mais comuns na infância são de pequenos animais, injeções, escuridão, altura e ruídos intensos. Essas fobias diferenciam-se dos medos normais da infância por serem reações excessivas, não adaptativas e que fogem do controle da criança.Na fobia social a criança apresenta um medo persistente e intenso de situações onde julga estar exposta à avaliação de outros , tendendo a sentir-se envergonhada ou humilhada. Essas crianças relatam desconforto em situações como :falar em sala de aula,comer junto a outras crianças,ir a festas,escrever na frente de outros colegas,usar banheiros públicos.Quando expostas a essas situações é comum apresentarem sintomas físicos como palpitações, tremores, calafrios, calores, sudorese e náusea.O tratamento mais utilizado para essas fobias tem sido a psicoterapia cognitivo-comportamental.Autores: Dra. Ana Luiza Galvão

Família, bem ou mal?

Família Faz Bem ou Mal à Saúde Mental?
Incluído em 18/01/2005
A sociedade glorifica a família e recomenda, enfaticamente, que o amor aos pais deve ser sempre incondicional. Dos pais aos filhos, o amor deve ser obrigatório, entre os irmãos o amor deve ser compromissado, como um pacto de fraternidade e, finalmente, entre os pais, o amor deve ser bastante teatralizado.
A sociedade não quer, de jeito nenhum, que se acredite na possibilidade dos pais maltratarem os filhos, sendo que a maioria de suas atitudes, sejam elas hostis ou não, inquestionavelmente, são para o bem dos filhos. A sociedade entende, a seu modo, quando os filhos dizem, em alto e bom som, que amam seus pais “apesar de tudo”... Certamente vão para o céu.
Mas a psiquiatria suspeita, ou melhor, a psiquiatria sabe como são e quais são as conseqüências dos complexos e dos vínculos ambivalentes que ligam filhos aos pais e vice-versa, como esses relacionamentos são cheios de ódios, amores, culpas e conflitos. Como os sentimentos são dissimulados sob a capa das boas intenções, mascarados por doenças psicossomáticas, teatralizados nas chantagens emocionais e assim por diante.
A psiquiatria sabe de tudo e, se a situação continua assim (ao longo das gerações), é porque a psiquiatria também sabe que, na maioria das vezes, seria uma catastrófica heresia desmascarar todo mundo. Aliás, todos, até você que está lendo, concordam com o que dissemos, DESDE QUE OCORRA NA FAMÍLIA DOS OUTROS. São poucos os honestos... Bem, por ora vamos deixar essa questão de lado.
Para estudos psicodinâmicos com a família deve ser levado em conta não só a família nuclear (pais e irmãos), mas o parentesco ampliado em duas ou três gerações ascendentes. Tal inclusão se justifica pelas peculiaridades das situações vividas e, principalmente, revividas em espelho entre os filhos e os pais, entre os cônjuges e suas projeções.
Essas projeções se dão, normalmente, da mãe para a esposa e do pai para o marido. Sabemos ser comum que filhas de alcoólatras se casam com outro alcoólatra, que filhos superprotegidos se casam com esposas protetoras e submissas. Por causa dessa perpetuação das relações familiares é que, muitas vezes, o filho está vivendo uma situação cujo início se deu duas gerações antes.
Inspirados no artigo de Sérgio Telles, também recomendamos o filme Festen (The Celebration, em inglês e Festa em Família, em português) do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, como um bom exemplo do ambiente hipócrita-neurotizante do seio familiar e dos esforços de seus membros em manter ocultas, à sete chaves, todas as mazelas que descaracterizam a harmonia ideal. Outro filme que retrata bem essas mazelas familiares é o italiano Parente Serpente, de Mario Monicelli, mestre da sátira e da comédia de costumes.
Será a Família, quem faz mal à Pessoa?Qualquer psiquiatra atento, invariavelmente terá uma dúvida crucial ao longo de sua carreira: qual seria a real influência da família sobre o estado emocional de uma pessoa? Essa dúvida se manifesta diariamente, durante anos, sempre que um paciente insinua sobre suas aflições decorrerem de relações problemáticas, passadas, presentes ou num suposto futuro, com seus pais, cônjuge, filhos, irmãos e/ou avós.
Como se não bastasse essa diversidade incômoda de parentes que podem ser responsabilizados por angústias e transtornos emocionais, muitos também atribuem suas angústias, não a esses parentes, mas à falta deles: “fui criado por tios”... “a ausência de meu pai (ou mãe) me fez muita falta...”. Mas..., que diabos? Parece que a família faz mal, tanto por sua presença, quanto por sua ausência, de forma que a pessoa parece estar sempre e sofregamente, preso à sua família ou em busca de uma.
Talvez a questão toda decorra da incansável busca do ser humano, pelo equilíbrio entre aquilo que é desejável e aquilo que é possível ou, melhor ainda, talvez decorra do distanciamento, lamento e mágoa das pessoas diante das situações possíveis, reais e concretas, tomando como parâmetro exclusivo de felicidade aquilo que seria desejável.
Os sentimentos que as famílias despertam nos psiquiatras são variados e curiosos. Inicialmente, de modo geral, há uma tendência em condenar as famílias, supondo que a maioria dos sofrimentos do cliente possa decorrer de dinâmicas familiares grosseiramente doentias.
Em seguida, observando-se melhor o cotidiano, os psiquiatras constatam uma série de casos incongruentes; famílias aparentemente bem estruturadas podem abrigar pessoas com sérios problemas emocionais e comportamentais, enquanto, por outro lado, pessoas sem nenhuma estrutura familiar podem, aparentemente, desenvolver-se de forma maravilhosa.
Considerando essas curiosas observações, juntamente com aquilo que dissemos antes, sobre a família fazer mal, tanto por sua presença quanto por sua ausência, podemos estar cometendo um engano grosseiro ao procurar, exclusivamente na dinâmica familiar, as responsabilidades pelos estados emocionais e pela tonalidade afetiva das pessoas.
Talvez o cerne do problema esteja na pessoa e não na família. Ou, com certo medo de sermos injustos, talvez a família ou a falta dela desencadeiem reações não-normais em pessoas previamente susceptíveis.
De fato, há suspeitas sobre tipos de pais que contribuem para problemas emocionais dos filhos. Vejamos a lista (abaixo) paradoxal e muito curiosa das características atribuídas aos pais que seria capazes de causar eventuais desconfortos emocionais nos filhos:
Causariam sofrimento emocional os pais...
1 – omissos e ausentes2 – tiranos e opressores3 – que exigem muito4 – que não exigem nada5 – que nutrem fortes expectativas sobre os filhos6 – que não se interessam tanto pelos filhos7 – que se separam para não brigarem mais8 – que não se separam mas brigam9 – que só pensam em dinheiro10 – que não ensinam a valorizar o dinheiro11 – muito enérgicos (que limitam muito)12 – muito camaradas (não dão limites)13 – que não entendem (ou não querem entender) os filhos14 – que interferem muito e querem saber de tudo15 – que proíbem muito16 – que permitem muito17 – que nunca estão satisfeitos18 – que acham que está sempre tudo muito bom19 – etc.20 – anti etc.
Ora, diante de tamanha diversidade de atitudes atribuídas ao mau desenvolvimento emocional dos filhos, é lógico considerar que o “defeito” estaria mais na pessoa do filho que nas atitudes dos pais.
A medicina não pode achar que a hipertensão, por exemplo, seja causada por uma dieta rica em sal, ou por excesso de absorção desse sal, ou por excesso de água, por falta de eliminação dessa água, por excesso de preocupações, pelo tédio de não ter o que fazer, por condições climáticas, por razões étnicas, por estresse, por questões familiares, etc. A medicina não deve calcar suas investigações exclusivamente em como a pessoa fica hipertensa mas, sobretudo, porque fica hipertensa essa determinada pessoa. Ou seja, a medicina deve investigar predominantemente o hipertenso, mais do que seu entorno, já que esse entorno é compartilhado por muitas outras pessoas sem hipertensão.
Nessa linha de raciocínio, chegamos a suspeitar que uma família provedora do bom crescimento emocional e desenvolvimento psíquico satisfatório de seus membros não é, obrigatoriamente, aquela com ausência de conflitos. Aceitando a idéia de Féres-Carneiro (1992), pode ser que o potencial para um bom crescimento emocional e um satisfatório desenvolvimento psíquico esteja centrado nas possibilidades que a família tem de encontrar alternativas para a solução se seus problemas e dos problemas de seus membros.
A lógica e sensatez parecem deixar claro que uma família intacta, porém cheia de conflitos e tensa, pode ter menos possibilidades de propiciar saúde a seus filhos que outra família com menos conflitos e mais estável, independente da família ser original ou reconstituída (recasada). Parece, também, que a capacidade de harmonia do vínculo conjugal e, conseqüentemente, do núcleo da família, pode ser considerado um indicador de saúde emocional dos pais, com reflexos sobre o bem estar dos filhos (Wagner, Ribeiro, Arteche, Bornholdt, 1999).
Ainda através da lógica e da sensatez, os fatos observados no cotidiano clínico sugerem que, embora possa ser importante o clima emocional do ambiente familiar no desenvolvimento psicológico e emocional dos filhos, essa importância se realça na medida em que as alterações familiares tendem aos extremos. No caso da expressiva maioria das famílias, onde se constata uma dinâmica e estrutura familiar estatisticamente comum (sem extremos), parece que saúde emocional dos filhos também se mantém sem extremos.
Além dos aspectos familiares que se reconhecem importantes na saúde mental de seus membros, talvez a outra variável igualmente ou mais importante ainda, seja a constituição da personalidade das próprias pessoas. Às vezes, tentando um misto de ironia e brincadeira, costumo perguntar ao paciente que atribui todos os seus males a algum aspecto familiar que acha relevante, quem é o psiquiatra dos irmãos dele.
Sim, porque se ele está procurando tratamento para um estado emocional “seguramente” decorrente de algum acontecimento familiar, sendo seus irmãos participantes da mesma família e, muito possivelmente, terem vivenciado o mesmo ambiente, então, certamente estão às voltas com algum outro psiquiatra. Quase sempre os outros irmãos (ou a grande maioria deles) estão bem.
Esse enfoque é importante, na medida em que muitos pais se afligem diante das dúvidas sobre conseqüências de possíveis falhas suas no desenvolvimento dos filhos. Ora, todos sabemos que, numa mesma família, entre os irmãos pode haver desenvolvimentos emocionais diferentes, apesar de todos eles vivenciarem o mesmo ambiente. Isso sugere que fatores pessoais possam ser determinantes tão ou mais importantes que o ambiente familiar.
A observação clínica cotidiana dos fatos permite arriscar ser perfeitamente possível, existirem bons níveis de saúde emocional familiar, a despeito de expressões domésticas de agressividade, raiva e hostilidade. Podemos encontrar famílias com tais componentes psicodinâmicos e, concomitantemente, com expressivas manifestações de carinho, fraternidade, coesão, apoio mútuo, ternura e afeto.
Assim sendo, considerando a importância da família e da personalidade no desenvolvimento emocional saudável de seus membros, podemos perguntar agora; como é esta família que faz bem à saúde? Como é esta família que faz mal à saúde?
Será a Pessoa, quem faz mal à Família?Muitas vezes nos deparamos com famílias muito bem organizadas e estruturadas mas, não obstante, promovedoras de grande desconforto emocional em seus membros, geradoras de conflitos, de crises emocionais, depressão, recorrência à drogas e até suicídio.
De antemão podemos dizer que as atitudes de diálogo, compreensão, intencionalidade comum e cumplicidade dos problemas influem mais que a própria estrutura familiar no bem estar emocional de seus membros. Isso significa que não basta a família manter-se sem brigas, se a ausência das desavenças significa apatia, indiferença e distância entre seus membros. Às vezes alguns clientes parecem surpresos ao descobrirem problemas emocionais e comportamentais em familiares, uma vez que “nunca nem discutimos em casa, doutor...”, ou ainda, apesar “de estarmos casados há mais de 20 anos, sem brigas e sem desavenças...”.
A literatura médica tem acompanhado (ainda discretamente) as contundentes transformações da estrutura familiar que vem acontecendo nas últimas décadas. Entre essas transformações estruturais, as famílias recasadas ou reconstituídas ocupam lugar de destaque.
A tradicional estrutura do tipo pai-mãe-filhos tem sido substituída por mãe-filhos, pai-filhos, pai-madrasta-filhos ou mãe-padrasto-filhos (Wagner e col.,1999), exigindo de todos os membros da família uma adaptação aos novos papéis e à nova estrutura. Alguns autores vêm nesse processo de transição um esforço adaptativo e, conseqüentemente, um momento de crise (Costa, 1991, 1992). Mas esses momentos de crise podem ser superados quando os membros da família com nova estrutura, construírem um ambiente de cordialidade, tolerância, compreensão e carinho.
Assim como os primeiros anos de casamento são marcados por uma atmosfera de compreensão e felicidade entre o casal e, mais adiante, entre o casal e os filhos, também os primeiros tempos do re-casamento podem comportar esse clima, o qual expressa o sadio desejo de "dar certo".
Dessa forma, podemos dizer que quando a intencionalidade dos membros da família (original ou reconstituída) for expressa em atitudes dirigidas para “que tudo deve ser feito para dar certo”, e o empenho das pessoas seja no sentido de “sermos felizes”, muito estará sendo feito para o bem estar emocional de todos.
Portanto, muito além da estrutura familiar, as atitudes de seus membros são determinantes para o bem estar geral. Para isso os membros devem compreender a realidade da família e, compreender a realidade da família, significa estabelecer limites entre o possível e o ideal, entre como gostaríamos que fosse e como é de fato, entre o que pode ser mudado e o que é desse jeito. Algumas coisas dependem do destino, algumas outras das pessoas...
Enfim, compreender a realidade da família é uma das formas que favorecem o bem estar de seus membros e a saúde emocional de todos. Todas atitudes que contribuem para relações mais harmoniosas, que resultam em maior tolerância e compreensão na tentativa de construção ou reconstrução da família, parecem contribuir para a sensação de bem-estar de todos os membros.


Ballone GJ, Ortolani IV – A Família faz bem ou mal Saúde Mental? - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb

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Família Faz Bem ou Mal à Saúde Mental?
Incluído em 18/01/2005
A sociedade glorifica a família e recomenda, enfaticamente, que o amor aos pais deve ser sempre incondicional. Dos pais aos filhos, o amor deve ser obrigatório, entre os irmãos o amor deve ser compromissado, como um pacto de fraternidade e, finalmente, entre os pais, o amor deve ser bastante teatralizado.
A sociedade não quer, de jeito nenhum, que se acredite na possibilidade dos pais maltratarem os filhos, sendo que a maioria de suas atitudes, sejam elas hostis ou não, inquestionavelmente, são para o bem dos filhos. A sociedade entende, a seu modo, quando os filhos dizem, em alto e bom som, que amam seus pais “apesar de tudo”... Certamente vão para o céu.
Mas a psiquiatria suspeita, ou melhor, a psiquiatria sabe como são e quais são as conseqüências dos complexos e dos vínculos ambivalentes que ligam filhos aos pais e vice-versa, como esses relacionamentos são cheios de ódios, amores, culpas e conflitos. Como os sentimentos são dissimulados sob a capa das boas intenções, mascarados por doenças psicossomáticas, teatralizados nas chantagens emocionais e assim por diante.
A psiquiatria sabe de tudo e, se a situação continua assim (ao longo das gerações), é porque a psiquiatria também sabe que, na maioria das vezes, seria uma catastrófica heresia desmascarar todo mundo. Aliás, todos, até você que está lendo, concordam com o que dissemos, DESDE QUE OCORRA NA FAMÍLIA DOS OUTROS. São poucos os honestos... Bem, por ora vamos deixar essa questão de lado.
Para estudos psicodinâmicos com a família deve ser levado em conta não só a família nuclear (pais e irmãos), mas o parentesco ampliado em duas ou três gerações ascendentes. Tal inclusão se justifica pelas peculiaridades das situações vividas e, principalmente, revividas em espelho entre os filhos e os pais, entre os cônjuges e suas projeções.
Essas projeções se dão, normalmente, da mãe para a esposa e do pai para o marido. Sabemos ser comum que filhas de alcoólatras se casam com outro alcoólatra, que filhos superprotegidos se casam com esposas protetoras e submissas. Por causa dessa perpetuação das relações familiares é que, muitas vezes, o filho está vivendo uma situação cujo início se deu duas gerações antes.
Inspirados no artigo de Sérgio Telles, também recomendamos o filme Festen (The Celebration, em inglês e Festa em Família, em português) do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, como um bom exemplo do ambiente hipócrita-neurotizante do seio familiar e dos esforços de seus membros em manter ocultas, à sete chaves, todas as mazelas que descaracterizam a harmonia ideal. Outro filme que retrata bem essas mazelas familiares é o italiano Parente Serpente, de Mario Monicelli, mestre da sátira e da comédia de costumes.
Será a Família, quem faz mal à Pessoa?Qualquer psiquiatra atento, invariavelmente terá uma dúvida crucial ao longo de sua carreira: qual seria a real influência da família sobre o estado emocional de uma pessoa? Essa dúvida se manifesta diariamente, durante anos, sempre que um paciente insinua sobre suas aflições decorrerem de relações problemáticas, passadas, presentes ou num suposto futuro, com seus pais, cônjuge, filhos, irmãos e/ou avós.
Como se não bastasse essa diversidade incômoda de parentes que podem ser responsabilizados por angústias e transtornos emocionais, muitos também atribuem suas angústias, não a esses parentes, mas à falta deles: “fui criado por tios”... “a ausência de meu pai (ou mãe) me fez muita falta...”. Mas..., que diabos? Parece que a família faz mal, tanto por sua presença, quanto por sua ausência, de forma que a pessoa parece estar sempre e sofregamente, preso à sua família ou em busca de uma.
Talvez a questão toda decorra da incansável busca do ser humano, pelo equilíbrio entre aquilo que é desejável e aquilo que é possível ou, melhor ainda, talvez decorra do distanciamento, lamento e mágoa das pessoas diante das situações possíveis, reais e concretas, tomando como parâmetro exclusivo de felicidade aquilo que seria desejável.
Os sentimentos que as famílias despertam nos psiquiatras são variados e curiosos. Inicialmente, de modo geral, há uma tendência em condenar as famílias, supondo que a maioria dos sofrimentos do cliente possa decorrer de dinâmicas familiares grosseiramente doentias.
Em seguida, observando-se melhor o cotidiano, os psiquiatras constatam uma série de casos incongruentes; famílias aparentemente bem estruturadas podem abrigar pessoas com sérios problemas emocionais e comportamentais, enquanto, por outro lado, pessoas sem nenhuma estrutura familiar podem, aparentemente, desenvolver-se de forma maravilhosa.
Considerando essas curiosas observações, juntamente com aquilo que dissemos antes, sobre a família fazer mal, tanto por sua presença quanto por sua ausência, podemos estar cometendo um engano grosseiro ao procurar, exclusivamente na dinâmica familiar, as responsabilidades pelos estados emocionais e pela tonalidade afetiva das pessoas.
Talvez o cerne do problema esteja na pessoa e não na família. Ou, com certo medo de sermos injustos, talvez a família ou a falta dela desencadeiem reações não-normais em pessoas previamente susceptíveis.
De fato, há suspeitas sobre tipos de pais que contribuem para problemas emocionais dos filhos. Vejamos a lista (abaixo) paradoxal e muito curiosa das características atribuídas aos pais que seria capazes de causar eventuais desconfortos emocionais nos filhos:
Causariam sofrimento emocional os pais...
1 – omissos e ausentes2 – tiranos e opressores3 – que exigem muito4 – que não exigem nada5 – que nutrem fortes expectativas sobre os filhos6 – que não se interessam tanto pelos filhos7 – que se separam para não brigarem mais8 – que não se separam mas brigam9 – que só pensam em dinheiro10 – que não ensinam a valorizar o dinheiro11 – muito enérgicos (que limitam muito)12 – muito camaradas (não dão limites)13 – que não entendem (ou não querem entender) os filhos14 – que interferem muito e querem saber de tudo15 – que proíbem muito16 – que permitem muito17 – que nunca estão satisfeitos18 – que acham que está sempre tudo muito bom19 – etc.20 – anti etc.
Ora, diante de tamanha diversidade de atitudes atribuídas ao mau desenvolvimento emocional dos filhos, é lógico considerar que o “defeito” estaria mais na pessoa do filho que nas atitudes dos pais.
A medicina não pode achar que a hipertensão, por exemplo, seja causada por uma dieta rica em sal, ou por excesso de absorção desse sal, ou por excesso de água, por falta de eliminação dessa água, por excesso de preocupações, pelo tédio de não ter o que fazer, por condições climáticas, por razões étnicas, por estresse, por questões familiares, etc. A medicina não deve calcar suas investigações exclusivamente em como a pessoa fica hipertensa mas, sobretudo, porque fica hipertensa essa determinada pessoa. Ou seja, a medicina deve investigar predominantemente o hipertenso, mais do que seu entorno, já que esse entorno é compartilhado por muitas outras pessoas sem hipertensão.
Nessa linha de raciocínio, chegamos a suspeitar que uma família provedora do bom crescimento emocional e desenvolvimento psíquico satisfatório de seus membros não é, obrigatoriamente, aquela com ausência de conflitos. Aceitando a idéia de Féres-Carneiro (1992), pode ser que o potencial para um bom crescimento emocional e um satisfatório desenvolvimento psíquico esteja centrado nas possibilidades que a família tem de encontrar alternativas para a solução se seus problemas e dos problemas de seus membros.
A lógica e sensatez parecem deixar claro que uma família intacta, porém cheia de conflitos e tensa, pode ter menos possibilidades de propiciar saúde a seus filhos que outra família com menos conflitos e mais estável, independente da família ser original ou reconstituída (recasada). Parece, também, que a capacidade de harmonia do vínculo conjugal e, conseqüentemente, do núcleo da família, pode ser considerado um indicador de saúde emocional dos pais, com reflexos sobre o bem estar dos filhos (Wagner, Ribeiro, Arteche, Bornholdt, 1999).
Ainda através da lógica e da sensatez, os fatos observados no cotidiano clínico sugerem que, embora possa ser importante o clima emocional do ambiente familiar no desenvolvimento psicológico e emocional dos filhos, essa importância se realça na medida em que as alterações familiares tendem aos extremos. No caso da expressiva maioria das famílias, onde se constata uma dinâmica e estrutura familiar estatisticamente comum (sem extremos), parece que saúde emocional dos filhos também se mantém sem extremos.
Além dos aspectos familiares que se reconhecem importantes na saúde mental de seus membros, talvez a outra variável igualmente ou mais importante ainda, seja a constituição da personalidade das próprias pessoas. Às vezes, tentando um misto de ironia e brincadeira, costumo perguntar ao paciente que atribui todos os seus males a algum aspecto familiar que acha relevante, quem é o psiquiatra dos irmãos dele.
Sim, porque se ele está procurando tratamento para um estado emocional “seguramente” decorrente de algum acontecimento familiar, sendo seus irmãos participantes da mesma família e, muito possivelmente, terem vivenciado o mesmo ambiente, então, certamente estão às voltas com algum outro psiquiatra. Quase sempre os outros irmãos (ou a grande maioria deles) estão bem.
Esse enfoque é importante, na medida em que muitos pais se afligem diante das dúvidas sobre conseqüências de possíveis falhas suas no desenvolvimento dos filhos. Ora, todos sabemos que, numa mesma família, entre os irmãos pode haver desenvolvimentos emocionais diferentes, apesar de todos eles vivenciarem o mesmo ambiente. Isso sugere que fatores pessoais possam ser determinantes tão ou mais importantes que o ambiente familiar.
A observação clínica cotidiana dos fatos permite arriscar ser perfeitamente possível, existirem bons níveis de saúde emocional familiar, a despeito de expressões domésticas de agressividade, raiva e hostilidade. Podemos encontrar famílias com tais componentes psicodinâmicos e, concomitantemente, com expressivas manifestações de carinho, fraternidade, coesão, apoio mútuo, ternura e afeto.
Assim sendo, considerando a importância da família e da personalidade no desenvolvimento emocional saudável de seus membros, podemos perguntar agora; como é esta família que faz bem à saúde? Como é esta família que faz mal à saúde?
Será a Pessoa, quem faz mal à Família?Muitas vezes nos deparamos com famílias muito bem organizadas e estruturadas mas, não obstante, promovedoras de grande desconforto emocional em seus membros, geradoras de conflitos, de crises emocionais, depressão, recorrência à drogas e até suicídio.
De antemão podemos dizer que as atitudes de diálogo, compreensão, intencionalidade comum e cumplicidade dos problemas influem mais que a própria estrutura familiar no bem estar emocional de seus membros. Isso significa que não basta a família manter-se sem brigas, se a ausência das desavenças significa apatia, indiferença e distância entre seus membros. Às vezes alguns clientes parecem surpresos ao descobrirem problemas emocionais e comportamentais em familiares, uma vez que “nunca nem discutimos em casa, doutor...”, ou ainda, apesar “de estarmos casados há mais de 20 anos, sem brigas e sem desavenças...”.
A literatura médica tem acompanhado (ainda discretamente) as contundentes transformações da estrutura familiar que vem acontecendo nas últimas décadas. Entre essas transformações estruturais, as famílias recasadas ou reconstituídas ocupam lugar de destaque.
A tradicional estrutura do tipo pai-mãe-filhos tem sido substituída por mãe-filhos, pai-filhos, pai-madrasta-filhos ou mãe-padrasto-filhos (Wagner e col.,1999), exigindo de todos os membros da família uma adaptação aos novos papéis e à nova estrutura. Alguns autores vêm nesse processo de transição um esforço adaptativo e, conseqüentemente, um momento de crise (Costa, 1991, 1992). Mas esses momentos de crise podem ser superados quando os membros da família com nova estrutura, construírem um ambiente de cordialidade, tolerância, compreensão e carinho.
Assim como os primeiros anos de casamento são marcados por uma atmosfera de compreensão e felicidade entre o casal e, mais adiante, entre o casal e os filhos, também os primeiros tempos do re-casamento podem comportar esse clima, o qual expressa o sadio desejo de "dar certo".
Dessa forma, podemos dizer que quando a intencionalidade dos membros da família (original ou reconstituída) for expressa em atitudes dirigidas para “que tudo deve ser feito para dar certo”, e o empenho das pessoas seja no sentido de “sermos felizes”, muito estará sendo feito para o bem estar emocional de todos.
Portanto, muito além da estrutura familiar, as atitudes de seus membros são determinantes para o bem estar geral. Para isso os membros devem compreender a realidade da família e, compreender a realidade da família, significa estabelecer limites entre o possível e o ideal, entre como gostaríamos que fosse e como é de fato, entre o que pode ser mudado e o que é desse jeito. Algumas coisas dependem do destino, algumas outras das pessoas...
Enfim, compreender a realidade da família é uma das formas que favorecem o bem estar de seus membros e a saúde emocional de todos. Todas atitudes que contribuem para relações mais harmoniosas, que resultam em maior tolerância e compreensão na tentativa de construção ou reconstrução da família, parecem contribuir para a sensação de bem-estar de todos os membros.


Ballone GJ, Ortolani IV – A Família faz bem ou mal Saúde Mental? - in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Óleo de Fígado de Bacalhau

Estudo com ácido graxo faz cérebro evoluir três anos
Peixes oleosos como o salmão contém o ácido graxo ômega 3Cientistas britânicos descobriram que quatro crianças que tomaram um suplemento de ácido graxo durante um experimento tiveram um desenvolvimento cerebral de três anos em apenas três meses.Três meninos e uma menina, todos acima do peso ideal e com idades entre oito e 13 anos, participaram do experimento do Imperial College, de Londres, em que os cientistas procuraram avaliar os efeitos da junk food em cérebros jovens.
Foi pedido às crianças para que fossem mais ativas e reduzissem o consumo de comidas pouco saudáveis e bebidas com gás. Ao mesmo tempo, elas receberam dois comprimidos diários do suplemento VegEPA, que contém ácido graxo ômega-3.
Testes realizados depois de três meses revelaram que as crianças tiveram um aumento na habilidade de leitura, sua caligrafia ficou mais clara e mais precisa e elas mostraram mais concentração nas aulas.
Embora as crianças tenham sido incentivadas a mudar sua dieta, não houve sinais de que elas tenham seguido a orientação à risca, sugerindo que a melhoria no seu desempenho escolar foi resultado do uso do suplemento alimentar de ômega-3.MeninosSegundo Basant Puri, pesquisador do Imperial College, exames de mapeamento do cérebro mostraram um aumento no cérebro das crianças de uma substância quí­mica conhecida como N-acetilaspartato (NAA), ligada ao desenvolvimento do órgão.
Foi como se esses fossem os cérebros de crianças três anos mais velhas. Isso significa que havia mais conexões (cerebrais) e maior densidade das células nervosas
Professor Basant Puri, um dos responsáveis pela pesquisa“Em três meses, você espera ver um pequeno crescimento (da concentração) do NAA”, disse Puri, que liderou o estudo. “Mas nós vimos um crescimento que seria visto normalmente em três anos.”
Foram os meninos que participaram do experimento que demonstraram mais as mudanças positivas.
Os ácidos graxos 6omega-3 são encontrados em peixes gordurosos, como o salmão, ou em sementes como a de abóbora e nozes.Conclusão duvidosaO professor Robert Grimble, que leciona nutrição na Universidade de Southampton (sul da Inglaterra), advertiu que as conclusões da pesquisa precisam ser vistas com cautela.
Segundo Grimble, estudos com uma maior amostragem precisam ser feitos sobre o assunto. “Minha opinião é que não podemos chegar a nenhuma conclusão clara até que um teste apropriado seja feito.”
“Esses pedacinhos fracos de informação apenas confundem as pessoas”, disse.
No ano passado, a agência reguladora de alimentos da Grã-Bretanha publicou uma análise dos efeitos dos suplementos extraí­dos de peixes gordurosos sobre crianças e disse que, à luz dos estudos disponí­veis, não era possí­vel chegar a qualquer conclusão.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

12 Princípios da Educação Positiva

21 Doze princípios da educação positiva:1 Amor incondicional2 Conhecer os princípios do comportamento3 Conhecer o desenvolvimento de uma criança4 Autoconhecimento5 Comunicação positiva6 Envolvimento7 Usar conseqüências positivas: reforçar, elogiar, valorizar8 Apresentar regras9 Ser consistente10 Não usar punição corporal11 Ser um modelo moral12 Educar para a autonomia

domingo, 15 de junho de 2008

Educação Ambiental começa na infância

Educação ambiental começa na infância
Pais podem - e devem - despertar o consumo consciente desde cedo
Simone Tinti


Controlar o impulso consumista dos filhos não é uma tarefa fácil, assim como também é difícil controlar os gastos com uma criança em casa. São fraldas descartáveis, brinquedos de plástico, televisão ligada por horas, gasto de água, entre outros costumes que podem desperdiçar recursos naturais e gerar grande quantidade de lixo para o meio ambiente. Então, como se tornar consumidores conscientes e passar este costume aos filhos? "Não é necessário ser radical, mas sim, tomar pequenas atitudes. É um trabalho de formiguinha, mas que dá resultado", explica Raquel Diniz, coordenadora da área de capacitação comunitária do Akatu. Estimular a criatividade dos filhos está entre esse tipo de atitude. "Os pais devem incentivar a criança a desenvolver uma relação de carinho com a natureza. Para isso, o mais indicado é aproveitar oportunidades do próprio cotidiano; um exemplo é ensinar o ciclo da água por meio da enxurrada, servir verduras e frutas e explicar de onde elas vêm; ou ainda, mostrar uma lagartixa e falar da importância dela para o equilíbrio da natureza", diz Paulo Groke, gerente de projetos ambientais do Instituto Ecofuturo. Como explica Raquel, um dos segredos para que o filho crie esses hábitos está no exemplo dos pais. "É preciso explicar desde cedo a diferença entre o 'ser' e o 'ter', dizer que se deve evitar o desperdício. Colocar no prato apenas o que vai comer e reaproveitar os alimentos, doar brinquedos para outras crianças, customizar roupas e ensinar a separação de materiais para reciclagem são alguns hábitos que devem ser adquiridos pela família inteira", diz. E os pais estão realmente mais preocupados em agir de maneira mais sustentável? Para Groke, ainda há um caminho a percorrer entre a intenção e a ação. "As pessoas sabem que os problemas existem, mas os mais engajados é que realmente fazem algo. Principalmente para os que vivem em um ambiente predominantemente urbano, tudo parece ser mais distante; para gostar e se preocupar, é preciso conviver com a natureza", afirma Groke. Fora de casa E não é só em casa que as crianças podem ser educadas para o consumo consciente. As escolas também devem exercer esse papel. No colégio Stance Dual, para alunos de 2 a 14 anos de idade, as ações ambientais e sociais fazem parte do currículo desde 2000. "Entre diversas atividades, realizamos coleta seletiva, incentivamos a reciclagem de latas de alumínio e tampas de garrafa e abolimos os copos de plástico e toalhas de papel, substituindo-se por canecas e toalhas de pano", diz Débora Regina Pires Moreira, coordenadora do projeto. Um dos destaques está no reaproveitamento do óleo de cozinha, que pode ser altamente poluente se despejado nos rios por meio do esgoto. "Fizemos uma parceria com a ONG Trevo, que cedeu à escola o recipiente para recolhermos o óleo usado tanto na cozinha da escola quanto nas casas dos alunos", explica Débora. Ou seja, o objetivo não é restringir as ações apenas à escola, mas também envolver as famílias e toda a comunidade.